
Mama
A amputação de uma mama por razões tumorais é muito frequente (o tumor da mama na mulher é, de todos, o de maior incidência), situação que constitui um grande abalo psicológico, choque emocional e perturbação grave. Atualmente, graças aos grandes avanços da Medicina, é possível reconstruir o que se perdeu, com o intuito de devolver à paciente a alegria e motivação, muitas vezes, perdidas nesta etapa da vida.
A mama da mulher, além de órgão funcional importante, é, na perspetiva da sociedade atual, uma parte integrante e identificadora do contorno feminino. Esta estrutura tem um forte vínculo com a vida psicológica, social, profissional e sexual, quer da mulher quer do homem. Sendo a parte do corpo com que o recém-nascido entra em contato direto mais precoce, ligado à sua sobrevivência, recebe da Arte Grega a expressão simbólica da feminilidade.
O cirurgião plástico é mais frequentemente procurado com a finalidade de proceder à escultura corretiva e artística dos seios, nas seguintes situações: mama pequena (atrofia e hipoplasia mamária), mama grande (hipertrofia e gigantismo mamário), mama caída (ptose), mamas diferentes (assimetria mamária), mama amputada (status pós-mastectomia) e aumento de volume mamário no sexo masculino (ginecomastia).
As intervenções cirúrgicas respetivas são concretizadas após programação adequada com estudo clínico do/a paciente, estudo laboratorial (análises do sangue e urina), electrocardiograma, se necessário, e outros exames complementares de diagnóstico, conforme o caso.
Após esta avaliação global, deve ser dada muita importância ao perfil psicológico e às pretensões subjectivas da paciente quanto ao volume, forma, projeção e outros pormenores relativos à mama. Com este conhecimento global da paciente e meticuloso quanto ao seu desejo, é marcada a correção cirúrgica, na maioria das vezes sob anestesia geral.
A história do ser humano tem mostrado que este ainda valoriza mais a sua integridade ou determinado órgão, quando existe o risco de o perder. Depois de amputada a mama, na maioria das vezes por razões oncológicas, a perspetiva de reconstrução dá novamente alegria de viver à paciente. Mediante as situações clínicas, a reconstrução pode ser imediata ou adiada alguns meses ou escassos anos, sendo certo que as contra-indicações para esta intervenção são restritas e a morbilidade ou sofrimento após a reconstrução mamária é diminuta.
Na minha casuística, tenho como paciente mais jovem, a quem foi realizada reconstrução mamária, uma menina de 17 anos e a mais idosa, uma senhora de 68 anos, sendo, no entanto, mais frequente entre os 30 e 40 anos de idade. Habitualmente, a reconstrução é processada em duas intervenções separadas de alguns meses (2-6 meses), havendo múltiplas técnicas de cirurgia plástica para o mesmo fim, devendo o cirurgião, criteriosamente, selecioná-las.
A mais frequentemente utilizada nos dias de hoje consiste em inserir uma prótese expansiva, também designada por expansor (saco de silastic vazio), por debaixo da pele da região (“gravidez local”) até ao volume e dimensões pretendidas, com a introdução regular de soro fisiológico, através de válvula própria.
Decorrido este período, procede-se à simetria mamária, diminuindo ou aumentando a outra mama e reconstituindo a placa aréolo-mamilar da nova mama com o excedente retirado do outro lado. Também pode ser utilizada pele mais pigmentada de outras zonas do corpo ou pode ser feita uma tatuagem.
Os resultados, além de duradouros, são muito gratificantes, havendo a registar, por vezes, a cicatriz menos estética relativa à amputação mamária e cuja localização não favorece o seu disfarce.
Noutros casos, está indicado reconstruir-se com tecidos da própria paciente, não podendo haver recurso a esta técnica de expansão. Nesta situação, pode utilizar-se o conjunto de tecidos, pele, gordura e músculo abaixo do umbigo, que são transpostos para a região amputada, com vitalidade própria. Desta forma, é possível reconstruir (a partir “do nada”) de forma imediata, isto é, logo que a mama é amputada; ou de forma diferida, ou seja, meses ou anos após a cirurgia mutilante.
Em todos os casos, é importante que a mulher saiba que, atualmente, os grandes progressos tecnológicos permitem uma reconstrução mamária satisfatória e gratificante em termos morfológicos, funcionais, sociais, sexuais e psicológicos, contribuindo para o equilíbrio emocional da paciente.
Por Z. Biscaia Fraga
Dentes
O Prognatismo carateriza-se por um aumento da projeção anterior da mandíbula, ou seja, a pessoa tem o maxilar inferior muito projetado para fora e para a frente. Esta era uma caraterística comum entre alguns nobres. Há quem lhe chame até mandíbula de Habsburgo, devido à prevalência desta manifestação nessa família real europeia, causada pelo grande número de casamentos consanguíneos. O prognatismo interfere funcionalmente com a mastigação e com a articulação dentária porque os dentes de cima não encaixam nos de baixo.
É um problema que causa constrangimentos importantes na vida da pessoa, quer funcionais quer, sobretudo, estéticos. Não só pela alteração do próprio articulado dentário (oclusão em mordida aberta inferior), mas também do perfil da face (face côncava) e ainda pelo aumento da dimensão vertical da face.
Começa a revelar-se na infância e torna-se dramático na adolescência. A forma mais eficaz de corrigir o prognatismo é através de cirurgia (é difícil solucionar este problema através de outro tipo de tratamentos) e o momento ideal para a fazer é a partir dos 17 anos. Algumas pessoas demoram a decidir-se pela cirurgia mas os seus benefícios são significativos e proporcionam uma face mais harmoniosa.
Trata-se de uma doença do desenvolvimento da face que pode ter natureza familiar mas que, noutros casos, evidencia fatores diversos como hormonais, traumatismos, malformações congénitas, parafunções e hábitos adquiridos, entre outros.
Ao longo dos anos, o dr. Biscaia Fraga tem tratado inúmeras situações deste tipo. Por exemplo, quando se verifica um crescimento anormal da mandíbula por tumor de vasos sanguíneos (hemangioma da face), que conduzem a um maior aporte de elementos nutritivos e oxigénio para o osso, induzindo maior crescimento. Outros casos resultaram de queimaduras graves da face e pescoço que provocaram tracção esquelética. São ainda de referir situações em que se destacam alterações esqueléticas da face por traumatismos na infância e outras que se devem a anormais desenvolvimentos da estrutura óssea.
Face
A paralisia facial ocorre quando se verifica uma paralisia de alguns ou de todos os músculos responsáveis pelos movimentos e expressões faciais. É o nervo, designado por facial, que comanda os músculos da face, além de ser responsável pela sensação de gosto nos 2/3 anteriores da língua e de participar na secreção de saliva e de lágrimas.
A paralisia facial pode ser central, como nos casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral), ou periférica, como nos traumas e infeções virais. Causa grande ansiedade no paciente, já que a ideia que surge imediatamente é que está associada a um AVC. No entanto, mais de 70% dos casos são causados por uma doença menos grave, chamada Paralisia de Bell.
Esta é uma paralisia facial periférica causada pelo vírus Herpes simples, o mesmo que causa a conhecida herpes labial e genital. Este vírus pode atacar o nervo facial, fazendo com que este fique inflamado e inchado. Esta situação acaba por comprimi-lo dentro dos ossos do crânio, diminuindo a sua capacidade de transmitir impulsos nervosos.
Entre os fatores de risco para vir a sofrer de Paralisia de Bell estão a gravidez no terceiro trimestre e a diabetes mellitus. Esta paralisia inicia-se abruptamente com paralisia de toda a metade da face. Os sintomas mais comuns são a perda de expressão em metade da face com incapacidade de fechar totalmente um dos olhos, de levantar uma das sobrancelhas, de franzir a testa e de sorrir. Além destes, estão associados outros sintomas, como a diminuição do lacrimejamento de um dos olhos, o aumento da sensibilidade ao som num dos ouvidos, redução do paladar nos 2/3 iniciais da língua, diminuição da salivação e dor de cabeça ou ao redor da mandíbula.
A Paralisia de Bell costuma regredir espontaneamente. Nos casos mais agressivos, que não demonstram melhoras após 21 dias, pode deixar sequelas.
Genitais
Hipospádia é uma alteração anormal no desenvolvimento da uretra masculina. A uretra pode terminar em qualquer ponto na parte ventral do pénis, desde a glande até ao períneo (nos casos mais graves). Como consequência e devido a esta interrupção do crescimento uretral, o pénis adquire outras malformações, desde o corpo esponjoso ate ao prepúcio, que costuma ser típico nestes casos. Podemos ter, assim, encurvamento peniano associado, alterações na bolsa escrotal e mesmo nos testículos.
A complexidade desta patologia é variável. A cirurgia é a única solução porque é preciso reconstruir a uretra. Para isso, utiliza-se um enxerto, procedente de alguma mucosa do próprio paciente. Esta intervenção realiza-se depois dos seis meses de idade e antes dos quatro anos e pode durar entre 45 minutos a duas horas.
A criança deverá ficar internada por um período máximo de três dias, com sonda uretral até à bexiga (esta pode permanecer no máximo sete dias, mas a criança já estará em casa). O penso fica coberto por duas fraldas e é trocado de dois em dois dias. Após esta fase e até um mês depois da operação, os cuidados a ter são, em geral, que a criança não fique traumatizada.
Por existirem muitas particularidades, cada situação deve ser avaliada individualmente. Regra geral, por exemplo, em caso de Hipospádias distal (o defeito é na parte glandar do pénis) ou média (o defeito situa-se no terço distal do pénis), é necessária apenas uma cirurgia.
O Hipospádias é um dos defeitos mais comuns do aparelho genital masculino. No caso da mulher, a abertura anormal congénita da uretra dá para a parte interior da vagina, mas esta é uma situação bem mais rara do que no sexo masculino.